Pesquisa desenvolvida no Paraná pode aprimorar rugby em cadeiras de rodas

Cientistas que integram o Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) em Tecnologia Assistiva (TA) desenvolvem estudos para garantir ainda mais equidade nas competições

by carlosk

As partidas de rugby em cadeira de rodas são cheias de emoção, velocidade e pancadas. São dois times, oito atletas, dezesseis rodas e uma bola. A modalidade faz parte dos Jogos Paralímpicos há mais de vinte anos, com estreia brasileira em 2016, quando o país foi sede da maior competição esportiva do planeta.

Uma das equipes mais fortes do Brasil treina toda semana no complexo esportivo da Paraná Esporte, em Curitiba. A história do Gladiadores Quad Rugby é longa: são mais de dez anos de treinos, campeonatos e medalhas conquistadas dentro e fora do país. Dali, já saíram atletas para representar o Brasil nos Jogos Paralímpicos e nos maiores campeonatos nacionais e internacionais da modalidade. “É uma sensação de liberdade, a adrenalina sobe”, afirma o atleta Raphael Cardozo.

Ele conheceu o rugby em 2015, enquanto se recuperava de um acidente de carro. Desde então, o jogador participou de competições no Brasil e no mundo. Em 2023, Cardozo foi campeão no Campeonato Sul-Americano de Clubes Quad Rugby. O time dos Gladiadores treina três vezes por semana e é mantido pela Saúde Esporte Sociedade Esportiva que, desde 2007, promove a inclusão na capital do Paraná. Para Cardozo, a prática vai além do esporte. “O rugby ajuda muito na qualidade de vida da gente […] Você aprende com outros colegas o que é possível fazer dentro da nossa condição”, afirma. “Quando a gente tem período de férias, intervalos, sentimos bastante falta de todo esse movimento”, admite.

Classificação funcional do atleta de rugby – Para garantir o equilíbrio entre as equipes, cada atleta precisa passar pela classificação funcional. Ela determina a limitação física de cada integrante do time. A lógica é simples: cada jogador ou jogadora é avaliado dentro de uma escala de valores 0.5, 1.0, 1.5, 2.0, 2,5, 3.0 e 3.5. Quanto mais limitante for a deficiência, menor o valor. Quanto menos comprometido for o movimento do avaliado, mais alta a pontuação.

Cada time titular pode acumular, no máximo, oito pontos, somando as pontuações dos quatro jogadores em quadra. “O time não pode jogar só com jogadores fortes […] isso faz com que todos possam participar. Jogadores com lesões mais graves [mais próximos de 0,5 ponto], e 3,5 [pontos], menos grave”, afirma o técnico Marcelo Kamarowski.

A classificação serve para incluir diferentes tipos de limitação física de maneira justa: geralmente, atletas classificados de 0,5 a 2,5 pontos tiveram o movimento do corpo comprometido após acidentes. É o caso de Raphael Cardozo, que, em 2013, teve o carro fechado no trânsito. A partir de “3 pontos, 3,5, normalmente são jogadores congênitos [portadores de deficiência desde o nascimento]”, explica o treinador.

O processo é realizado por profissionais especializados. Segundo a Associação Brasileira de Rugby em Cadeira de Rodas (ABRC), eles são divididos entre classificadores clínicos (graduados em medicina, enfermagem, fisioterapia e áreas afins) e classificadores técnicos, como profissionais de educação física ou graduados na área do esporte.

Tecnologia assistiva – Na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná, pesquisas do Laboratório de Engenharia de Reabilitação (LER) buscam aprimorar as etapas da classificação funcional. A doutoranda em Fisioterapia Ketlin Mikaela Medeiros Santos estuda como a mecanomiografia pode tornar as avaliações ainda mais precisas. O estudo, realizado no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia em Saúde (PPG), é feito sob a orientação do professor Percy Nohama e tem a coorientação do professor Elgison da Luz dos Santos.

O LER integra o Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) em Tecnologia Assistiva (TA), que visa reduzir as barreiras para a inclusão social, educacional e profissional de idosos e PcDs, estruturar aspectos de cidades inteligentes e acessíveis, promover metodologias, produtos e serviços e atuar para o acesso equitativo e inclusivo da Tecnologia Assistiva em articulação às políticas públicas no estado do Paraná.

O NAPI é uma parceria entre o Governo do Estado do Paraná, a Secretaria de Estado da Ciência Tecnologia e Ensino Superior (SETI), a Fundação Araucária, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), o Instituto Federal do Paraná (IFPR), a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o Complexo Hospitalar do Trabalhador (HT), a Secretaria do Desenvolvimento Social e Família (SEDEF) e a Universidade Estadual do Norte Pioneiro (UENP). “O princípio [da pesquisa] é aplicar uma metodologia de avaliação para complementar, auxiliar, contribuir com a classificação funcional que já acontece dentro da modalidade”, explica Ketlin Mikaela.

A técnica da mecanomiografia é usada para medir as vibrações geradas pelos músculos durante a contração, captadas por sensores colados à pele. Com isso, é possível analisar o tempo de resposta e a força muscular do indivíduo, por exemplo.

Por meio dos resultados, o trabalho quer identificar um padrão entre atletas com a mesma pontuação funcional. Os dados também podem ajudar a determinar com maior precisão a classificação de cada jogador ou em situações em que há dúvida sobre a classificação de uma pessoa. “O nosso objetivo é contribuir e talvez acelerar esse processo”, afirma a doutoranda.

O trabalho de Rafael Santos, mestre em Tecnologia em Saúde e integrante do LER, também colabora para aprimorar a classificação funcional. Ele desenvolveu um dinamômetro digital, que mede a força exata exercida por cada mão. O que difere o dinamômetro do pesquisador dos aparelhos convencionais é a capacidade de avaliar também a força individual de cada dedo. No caso do rugby em cadeira de rodas, essa diferenciação pode tornar a classificação individual ainda mais precisa, já que cada jogador tem uma condição e limitação físicas diferentes.

Além disso, o aparelho pode ser usado na reabilitação e em protocolos de fortalecimento muscular de jogadores, tanto do rugby quanto em outros esportes. Com a aplicação da tecnologia, é possível identificar se houve perda ou aumento da força de um atleta ao decorrer do tempo. A partir da análise, pode-se pensar em estratégias para melhorar o desempenho do jogador avaliado. “A dinamometria auxilia na avaliação funcional muscular em todos os casos, tanto em casos comuns, como no esporte e paradesporto, e também para casos de reabilitação ou fortalecimento muscular, por exemplo”, explica.

O rugby em cadeira de rodas surgiu na década de 1970, no Canadá, com o objetivo de adaptar a modalidade para três principais perfis: tetraplégicos, geralmente vítimas de acidentes na medula; congênitos, que possuem limitações físicas desde o nascimento; e pessoas com membros amputados. Para que os dois últimos casos sejam considerados equivalentes à tetraplegia, o jogador ou jogadora precisa ter o movimento comprometido em três ou quatro membros do corpo. Paraplégicos, por exemplo, não podem jogar, porque têm apenas o movimento das pernas limitado.

Na quadra, são quatro jogadores titulares e até oito reservas por equipe. A lógica é a mesma do rugby convencional: marca ponto quem passar da linha do gol com as duas rodas da cadeira e a bola das mãos. De acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro, a quadra oficial tem 15 metros de largura por 28 metros de comprimento. As partidas são divididas em quatro tempos de oito minutos, com substituições ilimitadas.

Raphael Cardozo conheceu o rugby em 2015, durante reabilitação (Foto: Giovani Sella)

Regras da modalidade – O rugby em cadeira de rodas surgiu na década de 1970, no Canadá, com o objetivo de adaptar a modalidade para três principais perfis: tetraplégicos, geralmente vítimas de acidentes na medula; congênitos, que possuem limitações físicas desde o nascimento; e pessoas com membros amputados. Para que os dois últimos casos sejam considerados equivalentes à tetraplegia, o jogador ou jogadora precisa ter o movimento comprometido em três ou quatro membros do corpo. Paraplégicos, por exemplo, não podem jogar, porque têm apenas o movimento das pernas limitado.

Na quadra, são quatro jogadores titulares e até oito reservas por equipe. A lógica é a mesma do rugby convencional: marca ponto quem passar da linha do gol com as duas rodas da cadeira e a bola das mãos. De acordo com o Comitê Paralímpico Brasileiro, a quadra oficial tem 15 metros de largura por 28 metros de comprimento. As partidas são divididas em quatro tempos de oito minutos, com substituições ilimitadas.

Por pouco, o Brasil não se classificou para os Jogos Paralímpicos de Paris após perder por 62 a 50 para a Alemanha na disputa pela terceira e última vaga. A última vez em que a seleção brasileira participou da competição foi em 2016, quando o país foi sede do evento. Em 2028, os Jogos acontecem em Los Angeles, nos Estados Unidos. Para o treinador Marcelo Kamarowski, essa será a “grande chance”. São três vagas para as Américas, fora a dos EUA, que já tem espaço garantido por ser o anfitrião da disputa. Sobram duas – para o técnico, uma delas “provavelmente vai ser do Canadá. Brasil e Colômbia vão brigar pela terceira vaga”. Por enquanto, os brasileiros ficam na expectativa. “Acredito que em 2028 vamos estar lá”.

 

Por Rodrigo Matana/Agência Escola UFPR / Bem Paraná
Link: https://www.bemparana.com.br/esportes/pesquisa-desenvolvida-no-parana-pode-aprimorar-rugby-em-cadeiras-de-rodas/

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