Os países mais desenvolvidos, como, por exemplo, os Estados Unidos, têm nas fileiras de seus Exércitos, uma gama de atividades de reabilitação para os militares com deficiência. Isso é materializado, principalmente na admissão desses militares que voltam a desempenhar atividades eminentemente administrativas, usando as capacidades cognitivas desses militares, mesmo que, com incapacidades B, por mutilações ou paraplegia, em razão de combates.
Todo militar com deficiência tem o objetivo de alcançar um excelente desempenho em esportes de alto rendimento, os quais são presentes nas competições de grande vulto, tais como as olimpíadas, paralimpíadas, Sul-americanos e Pan-americanos. O paradesporto de base se destaca, como atividade inicial, por ser capaz de ajudar a reabilitação desses militares e possibilitar a volta desse público ao serviço ativo e, além disso, a chegar em competições de alto rendimento.
O alto rendimento é o resultado do trabalho de anos consecutivos, mensurados pelos treinos metódicos, planilhas de dados, apoio especializado de profissionais dedicados, aquisição de equipamento de competição de alto nível e alimentação e suplementações específicas. Ou seja, há um complexo processo logístico que envolve a atividade de cada atleta, desde as raias de largada à linha de chegada, em qualquer modalidade esportiva.
No hipismo não é diferente. Toda a cauda logística é de suma importância, até porque, tratam-se de dois atletas: o ser humano e o cavalo e, para este, existe todo um arcabouço veterinário especializado para cada modalidade desportiva. Conforme o sítio ILOS, em 2016:
“O Hipismo ficou marcado na história brasileira, graças ao cavaleiro Rodrigo Pessoa, que nas olimpíadas de Atenas em 2004 ganhou medalha de ouro para o Brasil, montando o famoso cavalo Baloubet de Rouet. Para as Olimpíadas do Brasil, foi feito o transporte de quase 300 cavalos, uma operação que irá custar cerca de 10 milhões de dólares para o Comitê Olímpico Brasileiro. Este custo é compreensível visto o alto valor das cargas. Para efeito comparativo, o cavalo Palloubet D’Halong, herdeiro do Baloubet montado por Pessoa, veio ao Brasil para representar a seleção do Qatar e foi comprado pela federação do país por 11 milhões de euros, um valor estratosférico para um cavalo que será somente o reserva de um dos cavaleiros do país”. (ALVARENGA,2016) 1
É notável que o paradestramento, uma modalidade do paradesporto, já constante nas paraolimpíadas, desempenha uma crescente importância no Brasil, principalmente depois do evento sediado na cidade do Rio de Janeiro em 2016. Nesse ínterim, a Confederação Brasileira de Hipismo (CBH), pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), tem fomentado essa modalidade em todo Brasil.
“Brasil a caminho do Mundial: Sergio Oliva, top 10 em Tóquio, também está tecnicamente qualificado para o Mundial 2022. Outros três cavaleiros Thiago Fonseca, Flamarion Pereira da Silva e Vera Lucia Mazzilli, vindos do Brasil, buscam qualificação técnica (mínimo de 62%) de 17 a 19/6 na Holanda e de 30/6 a 3/7 na Bélgica, todos montando cavalos alugados. Sergio Oliva, que também está no Brasil, vai competir com Millenium, de sua propriedade, com o qual competiu em Tóquio. Com Rodolpho e Sergio já qualificados, há duas vagas em aberto para formação da equipe no Mundial, que deve ter no mínimo três integrantes.” (CBH, 2022). 2
Desse modo, no âmbito do Exército Brasileiro (EB) não é diferente. Já existem dois grandes projetos que versam sobre os objetivos nacionais, constantes no Plano Estratégico do Exército, tangenciando o mesmo escopo: Objetivo Estratégico do Exército, número 13, que versa sobre FORTALECER A DIMENSÃO HUMANA; Objetivo Estratégico do Exército, número 14 que versa sobre a AMPLIAÇÃO DA INTEGRAÇÃO DO EXÉRCITO À SOCIEDADE e Objetivo Estratégico do Exército, número 15 que versa sobre MAXIMIZAR A OBTENÇÃO DE RECURSOS DO ORÇAMENTO E DE OUTRAS FONTES.
Um desses projetos é o Projeto Força no Esporte (PROFESP), que busca atender crianças por todo o território nacional, trazendo-as para as Organizações Militares do Exército Brasileiro, a fim de promover sua interação social por meio do esporte.
Outro Projeto é o João do Pulo, que visa atender os militares que foram reformados por alguma deficiência física ou doença degenerativa, também através do esporte, fazendo-os regressar às Organizações Militares (OM), no intento da melhora dos quadros clínicos e, ao final de um treinamento, em que os de melhor performance poderão ser escolhidos paratletas do EB.
Para isso, esse segundo projeto traz consigo algumas modalidades que são carro-chefe do projeto. São elas: tiro com arco; tiro esportivo adaptado; atletismo; natação; basquete em cadeira de rodas e, agora, a Escola de Equitação do Exército (EsEqEx) germina o embrião de uma nova modalidade: o paradestramento, tendo como projeto- piloto o Soldado Reformado ZIRALDO NORBERTO FERNANDES, vinculado a SIP/1ª RM – 4ª Bda Inf L Mth, claro que sempre observando minuciosamente as complexidades advindas do desenvolvimento e reabilitação desse militar.
A cooperação com nossos hospitais militares, o Hospital Geral da Vila Militar (HGeRJ) e o Hospital Central do Exército (HCE), que são facilitadores desse projeto, os quais são sensibilizados com tal iniciativa, quando houver alguma eventualidade ou sendo necessária a evacuação de algum desses paratletas durante os treinamentos.
É possível verificar a eficiência do atendimento de emergência, pois este já é amplamente empregado nos casos de atendimento dos alunos do Curso de Equitação, curso que faz parte da grade curricular e que ocorre anualmente na EsEqEx. É o que desejo que ocorra, visto que tanto a prevenção quanto o plano de evacuação médica bem definidos para o atendimento médico de uma pessoa com deficiência (PCD) resultarão na excelência do ensino da prática desportiva que se deseja desenvolver. Contudo, para a Escola de Equitação do Exército, no escopo do Projeto João do Pulo, pode-se facilmente compará-lo a um avião que aguarda seu piloto ser formado para pilotá-lo. Nesse caso, o avião é o Projeto da Escola e o piloto são os paratletas, ávidos por iniciarem a preparação equestre.
Por fim, é de interesse da sociedade vê-lo voar, cada vez mais alto, e por que não pensar em levar o nome do Exército Brasileiro representado por um paratleta equestre até as paralimpíadas? É apenas um sonho? Não se pode dizer que é impossível, afinal de contas, já ocorreu, no Adestramento, o expressivo resultado do 3º Sargento João Victor Marcari Oliva, no dorso do cavalo Escorial Horsecampline, que chegou ao primeiro lugar no Grand Prix Concurso de Dressage Internacional (CDI3*), sediado em Jerez de La Frontera, Espanha, estando ele fardado e bem fardado, em terras europeias.
Portanto, a prática do paradesporto para a Escola de Equitação do Exército ocorrerá de um modo natural, para que os instrutores e monitores se adéquem a esta necessidade e demanda social. Será natural por duas razões: nós temos cavalos, baias, pistas e acomodações todas adaptadas que são necessários para desenvolvimento da doutrina paraequestre, dentro do Exército Brasileiro; e a outra razão é que a Escola de Equitação do Exército é polo irradiador da doutrina equestre, não só no âmbito do Exército Brasileiro, como também, no meio civil.
Com esse projeto, é possível atingir os Objetivos Estratégicos do Exército número 13, 14 e 15, constantes no Plano Estratégico do Exército, uma vez que: OEE3.1 Desenvolvimento de ações de apoio à família militar, OEE14.2 Ampliação da divulgação das ações da Força e OEE15.1 Realização de gestões para assegurar a obtenção de recursos para o atendimento das demandas do Exército.
Fonte: EBLOG do Exército Brasileiro